quarta-feira, 2 de julho de 2014

Relato sobre uma vida sem Televisão

Minha infância foi legal.
Abastada nos meus termos. Com um pouco de drama familiar, já que minha mãe passou por problemas de saúde bem sérios.
Cresci numa família cristã. Daquela que raramente perde um culto, e que frequentava assiduamente as reuniões de domingo de manhã, chamadas de Escola Bíblica Dominical (eu amava, aprendia sobre a bíblia, me divertia...), cresci ouvindo sobre Deus e Suas grandes coisas...Histórias do Pentateuco, histórias do Novo Testamento...Tudo muito instrutivo. Sigo até hoje.
Meus pais se converteram ao cristianismo em 1986. Na Assembleia de Deus. Eram recém-casados. Nessa época as coisas eram consideravelmente mais rigorosas, principalmente no ministério que meus pais frequentavam..
Não podia usar calça, não podia usar brincos, não podia usar manga curta, não podia usar barba...
Então, todas as coisas que eles costumavam fazer foram descartadas, e eles aderiram de vez os hábitos e costumes da igreja. Acreditaram realmente na proposta.
Família gracinha. E a foto faz tempo, porque hoje minha mãe anda! Oh yeah! (eu sou a de vestido florido)

Junto com todas as proibições referentes a aparência (que antigamente te identificava como crente, ou não.), havia uma proibição definitiva: crente não podia ter televisão!
Sim. Não podia.
Segundo minha mãe, levou um certo tempo até desapegar. Mas desapegaram. Por volta de 1987, mais ou menos, quando as gêmeas nasceram (minhas irmãs).
O tempo passou, e em 1990 eu apareci pra alegrar a vida de todos, hahaha, brincadeira, eu simplesmente nasci. E fui crescendo, chegando aquela idade que frequenta as casas alheias e nota a diferença...: onde está nossa TV?
Não tinha.
E talvez você se questione: como assim??? o que vocês faziam, pelo amor de Deus? que raio de infância foi essa? e os desenhos animados?
Calma.
A gente lia. Muito.
Líamos gibis. Líamos livros da Agatha Christie. Líamos jornais. Ouvíamos CBN com meu pai.
Líamos as revistas "Manequim" da minha mãe.
E quando todas as opções se esgotavam, caminhávamos mais ou menos meia-hora até a biblioteca mais próxima pra emprestarmos mais livros. Mais gibis, mais histórias e estórias.
Minha mãe tinha dificuldade de nos tirar do sofá se estivéssemos com nossos livros e afins na mão. A gente ia pra outro mundo. Aprendia sobre outros mundos.
Tínhamos vontade de assistir TV? Mas é claro. Éramos crianças. Nenhuma criança entende tão bem certas restrições.
Então, quando íamos na casa de minha avó Geralda, ou na casa dos meus tios ou da minha tia Nega, não adiantava querer conversar, precisávamos tirar o atraso de todos os dias em que ficávamos sem assistir TV.
Simples.
Mas isto acontecia esporadicamente. E o nosso divertimento mesmo era a leitura.
Quando outras crianças perguntavam, eu fica arredia, tentava mudar o assunto, mas se insistissem, não conseguia mentir, dizia: "Aaaah, mas eu não tenho televisão!", e me preparava para enxurrada de perguntas e comentários desagradáveis, me chateava um bocado, depois esquecia.
E assim foi, por um bom tempo.
Mesclávamos nosso interesse por leitura, com nosso interesse por música. 
Aprendemos teoria musical, aprendemos a tocar instrumentos. 
Cantar a gente meio que sabia, então armávamos nossos próprios shows e concertos, e até alguns programas de TV com plateia, nossa imaginação nunca deixou a desejar, rs! Éramos IMENSAMENTE criativas.
Também éramos as famosas CDF's. E meio nerds. Fama que carregamos até hoje. Sabíamos sobre todo e qualquer assunto, como se tivéssemos um grande computador na mente.
E não aprendemos com a TV. Aprendemos com os livros, com o rádio, com os gibis.
Com o tempo, compramos um computador, e nosso mundo se abriu mais ainda. E nossas mentes foram mais abertas ainda.
Comecei a não me interessar pelo que acontecia na televisão nas casas alheias. Tudo o que eu precisava, tinha.
Comecei a não me importar com as expressões de espanto quando dizia: "NÃO TENHO TV"
Toda necessidade de visuais animados que eu achava que tinha, meio que deu um tempo.
O mundo da internet se encarregou de tudo isso. E depois descobri a Band News FM, e coisa e tal...
E me dei conta de que não era menos inteligente que ninguém. Ou menos criativa. Ou menos "mente aberta". Chego até a dizer, sem humildade alguma, que eu era muito mais isso tudo que muitas outras pessoas. Sorry!
Ficamos adultas, estudamos em nossas universidades, nos formamos, trabalhamos. E hoje?
Ainda não temos TV!
E digo com orgulho!!! 
http://bookriot.com/2012/04/11/my-72-hours-with-no-tv/

Não sinto falta de saber o que acontece na novela das 8, não sinto falta da voz do William Bonner, não sinto falta do programa Discovery não-sei-que-lá. E percebo que sou muito impaciente em frente a TV, não consigo me concentrar, não consigo gostar da pobreza de alguns textos brasileiros em novela, e não consigo me convencer com algumas interpretações toscas.
Não consigo me interessar por ver o mundo através de algum apresentador sensacionalista que distorce tudo. 
Não consigo aceitar a maneira com que algumas notícias são apresentadas, sutilmente sem imparcialidade alguma, mostrando claramente o lado que determinada emissora está, e implantando aos poucos a mesma opinião na sociedade.
Eu até assisto TV quando vou a lugares. E tento me divertir. Encontro defeitos com bom-humor, pra ninguém dizer que sou matadora de alegria, e gosto do que assisto algumas vezes. E adoro filmes. E adoro Netflix, porque quem escolhe o que quer assistir sou eu, e se não tiver nada legal, eu volto as revistas, ou aos livros, ou aos gibis. Ou ao rádio.

Televisão não me faz falta. 
Não me envergonho em dizer que desconheço tal comercial, e tal personagem de tal programa.
Agora eu me sinto muito excêntrica, quando digo que não tenho televisor. Me sinto diferente. Me sinto.
E vivo muitíssimo bem, obrigada.
E sou informada, muito obrigada.
Sou inteligente e criativa, obrigada.

E sou feliz.
Grata.
*só esclarecendo.

Beijos.
Thatá.

Um comentário:

  1. Exatamente!!!
    Muito obrigada por passar por aqui!

    Como assim, eu não sabia que você tinha um blog???
    Tô passada!
    Rs.
    Beijos

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