segunda-feira, 15 de abril de 2013

Relato sobre a Vaidade Infantil e Benjamim Button

Olha...
Não sei o que mamãe diria ao ler esta frase, mas...Orgulho-me de minha infância.
Sério.
Assim, pra início de conversa, acho que eu era bem mais inteligente.
Minha cara sempre foi a mesma, cara de absolutamente nada. Mas eu era mais astuta, até onde uma criança podia ser.
Eu era mais apaziguadora, mais "paz e amor",  acordava cantarolando pela casa, sem preocupações, sem dramas e sem responsabilidades. Entretanto nunca fui meiga. Sempre tive uma secura característica, e sempre fui 'sarrista ', atormentei muita gente com os apelidos muito específicos que criava.
Nunca fui muito feminina, tudo se resumia a saias de elásticos, meião e tênis, minha maior vaidade era desembaraçar os cabelos naquele dia certo, dia este em que sofria, vale ressaltar, hahaha!
Verdade seja dita, eu era meio moleque.
Ia à loucura brincando de pega-pega com os moleques da igreja, de saia e trança embutida (minha mãe tentava!), eu era a "rainha dos olés", não tinha pra ninguém.
Bonecas eram meros instrumentos de estudos e experimentos, eu tatuava um braço, fazia um corte radical aqui, tingia com crepom ali, eu as detestava, hahahaha! Não brincava de casinha, ou coisas do tipo.
A brincadeira mais feminina que eu praticava, envolvia os sapatos verdes de salto alto da mamãe, puxa...Me sentia poderosa.
Por 5 minutos.
Depois perdia a graça e eu ia andar de bicicleta dentro do apartamento. ( =0 ) Ou ia empinar sacolas na janela do prédio, enquanto a tiazinha do andar de baixo se enfurecia e cortava a linha do meu "pipa". Aí então eu decidia comprar um Almanaque da Turma da Mônica, e me acalmava chupando um pirulito das Spice Girls.
Minha vida era esta. E eu era feliz.
Não existia Facebook,  eu não tinha celular. Nem bichinho virtual. Apenas ioiôs, tive a fase do pião, tive a fase do telefoninho de brinquedo, do pianinho de brinquedo, da caixa registradora de brinquedo, e oh boy, eu era besta de tão feliz!
Minha infância foi excepcional. E eu cresci razoavelmente bem. Haha!
Aí então, quando entro num banheiro do shopping ou da igreja, ou do mercado e presencio menininhas de 10 anos tirando fotos em frente ao espelho, fazendo biquinho, lançando os cabelos de um lado ao outro pra acertar no ângulo da foto (tirada com seus próprio celulares), fazendo poses e questionando a falta de HOMENS no planeta, como se não houvesse amanhã, fico BEGE!
Fico BEGE na mesma proporção, quando percebo que a preocupação dos menininhos agora é ter várias menininhas e sei lá, um revólver (eu já vi isso!) e não porque querem ser policiais.

Bonecos agora são apenas para bebês. E olhe lá, se a(o) boneca(o) não emitir algum som, ou não dar cambalhota ou cantar em inglês,  é bem provável que será ignorada(o) para todo o sempre.
Aí a gente sai por aí e vê nas prateleiras das lojas, UNHAS POSTIÇAS pra crianças, MAQUIAGEM (berrantes) para crianças, sapatos infantis com saltos particularmente altos, as roupas da Lilica Ripilica, Tigor Tigre e Turma da Mônica são massacradas pela avalanche de camisetas com frases irônicas PRA CRIANÇAS!
Oh God! Eu nem sabia o que era ironia aos dez anos.
E aí os pais aderem esse negócio de "adultecer" suas crias com muita facilidade, principalmente num mundo tão ocupado e corrido como o nosso, se falta tempo dê um bichinho esquisito pra criança cuidar através de um app, porque assim dá sossego.
Daqui há alguns anos as crianças não saberão mais andar de bicicleta, não saberão conversar entre si por falta de interação, não se importarão mais em aprender a ler (já acontece isso), o importante é ter seja lá o que for pra exibir por aí... Começarão a nascer preocupados com a vida, sem criatividade, sem as memoráveis aventuras de infância...
Passarão a nascer já velhinhos, cheios de dilemas...
Os bebês sairão das barrigas, e ao invés de chorarem dirão: "Mamãe, faça algo com a cor dos meus olhos!" ou "Por que meus cabelos são tão crespos?" ou "Mamãe a senhora engordou demais nesta gravidez e não me alimentou direito" ou ainda "Papai, obrigado por conversar estes nove meses comigo, mas na verdade sou filho do padeiro!"
Quando digo que me orgulho de minha infância, é porque fui boba do jeito que crianças devem ser, sem vaidades desnecessárias e sem atitudes adultas demais pra minha idade.
Sabe o que acho?
Acho que o mundo está sendo povoado de Benjamins Buttons! Criancinhas nascendo velhas, crescendo velhas e quando chega realmente a hora de amadurecer, elas decidem que é hora de brincar de casinha, ou de carrinho...
Aí eis aí o futuro do mundo, pessoas imaturas, inseguras em seus relacionamentos e suas decisões de vida em geral...
Aí minha gente, a vaca vai para o brejo, né?
Mas quem sabe, de repente há tempo de fazermos algo, antes do colapso.
(drama!)

Thatá.


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