Saí do serviço exatos 3 minutos após meu horário, que grande feito. Que alegria.
Caminhei determinada em direção ao ponto do *trólebus. E olha só, lá estava ele, me esperando.
Entrei, sentei. Posicionei meu livro de maneira adequada, e li, li e li, que maravilha...
Tudo fluía muito bem. Quando...
...O trólebus parou. Percebi uma movimentação anormal entre os passageiros, levantavam-se e questionavam algo, mas eu não estava aqui, estava em algum lugar da Inglaterra, com a Jane Austen.
Prossegui lendo.
Até que ouço o motorista dizer:
"Amigos, vocês precisarão descer, porque o trólebus elétrico da frente quebrou, logo, nenhum outro trólebus que seja elétrico, conseguirá ultrapassar deste ponto. Agora vocês devem esperar o ônibus à Diesel."
Aaaaah...Muita Lei de Murphy em minha vida, viu?
Desci. E instantaneamente comecei a congelar. Frio "coisado".
Permaneci "zen", com meus braços ao redor do corpo, pra tentar aquecer.
Até começar a observar os passageiros inquietos ao meu redor. Um ou outro ali reclamando baixinho...Comedidos. Cansados demais pra alardearem.
Mas...Rapaz...
Sabe aquelas senhorinhas fofas que sentam no banco preferencial, e parecem inofensivas? Transmitem aquele ar de "vovó Benta", cheiram a naftalina e coisas assim?
Pois bem. Adivinhem só quem estava causando "brainstorm" nos pobres infelizes, cansados trabalhadores, que foram obrigados a descer do trólebus?
Sim. As próprias.
Primeiro xingaram a Dilma, depois comentaram sobre a prima da tia que tinha passado por isso, depois reclamaram do valor da passagem e "onde já se viu, pagarmos tão caro, pra ficarmos na mão?" (cof, cof! aposentadas.), depois reclamaram do motorista, do lugar onde parou, da pessoa que empurrou, da demora dos ônibus, da demora da vida, (e reclamou da artrite, da artrose e do reumatismo, porque faz parte! hahaha!)
Oras, vamos e venhamos, por mais que alguns destes fossem os mesmos pensamentos que eu teria/tive, quem é o trabalhador/ operário/ executivo que quer lidar com esse tipo de questionamento após 8/12 horas de ralação?
Eu queria dar um toque pra elas...Bem sutil...Daquele tipo:
"Minhas senhoras, enfiem suas opiniões goela abaixo, ninguém aqui realmente se importa (neste momento), só queremos ir pra casa!"
Contudo...
Verdade seja dita, a parte mais desanimadora de todo compromisso de uma pessoa que depende do transporte público é... depender do transporte público. Ninguém fica feliz de esperar 30 minutos, 1 hora por um ônibus, ninguém fica feliz de sacolejar de um lado para o outro em pé, sendo esmagado aos poucos, e ninguém gosta de uma pessoa desagradável trazendo à tona em alto e bom som (acontece sempre na hora do meu cochilo!) aquilo que a gente evita pensar, evita pensar pra ver se de repente, as nossas "viagens" se tornam menos desgastantes e insuportáveis. (não rola, mas...)
Enfim...Depois das lamúrias infinitas das senhorinhas, houve um certo momento em particular, que me chamou a atenção, uma das tiazinhas, nascida por volta de 1850 declarou:
"Esse povo pensa em construir hotel na lua, e ainda não criaram um sistema de transporte público que funcione?"
Ou a tiazinha é muito ingênua, ou ela se esqueceu que as ideias "do hotel na lua" ou da "excursão pra Marte", não partiram necessariamente de um cidadão brasileiro, né?
Mas vamos lá!
Impossível que não haja um brasileiro inteligente sequer, que um dia tenha ideias revolucionárias para o transporte público. Tipo...Quer mudar um pedaço de alguma coisa ruim no Brasil?
Começa daí.
Porque para pessoas, que assim como eu, dependerão deste sistema porcaria, por um bom tempo (minha tendência a cochilar ao primeiro sinal de congestionamento no tráfego, torna minha vida motorista um perigo para a sociedade!) é uma grande coisa.
Só estou dizendo.
Então tá.
Grata pela atenção.
Thatá.
*trólebus: tipo um ônibus, só que maior. tipo um metrô só que menor. tipo um ônibus porque trafega na superfície, e tipo um metrô porque possui pista exclusiva que facilita seu deslocamento de um ponto ao outro. (tecnicamente)
(tipo descrição do Aurélio, mesmo.)
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